segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Cinzas

Hoje arrancaram do meu peito a esperança.
Hoje seguraram no meu coração e esmagarm-no até não restar nada mais.
Apenas pó. 
Reduziram-no a cinzas, daquelas partículas insignficantes que voam com o vento.
Resta-me agora ver em que direcção irão voar.
Se pousarão numa floresta sombria, se mergulharão nas ondas do mar ou se continuarão a ser levadas pelo  vento.
Hoje uma parte de mim morreu. 
Resta-me apenas saber se a luz que havia em mim terá força suficiente para voltar a brilhar.
Se o Sol do universo conseguirá chegar de novo até mim e aquecer o buraco que ficou no meu peito.
Vou chorar até ao esquecimento e deixar as cinzas pousar.
Resta-me saber para onde vão.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Temos 3 possibilidades na vida: desistir, morrer ou recomeçar.

Temos 3 possibilidades na vida: desistir, morrer ou recomeçar.

Santa era uma jovem mulher. Não era uma brasa, não era uma diva. Apenas uma mulher. Normal, cheia de rotinas e daquilo que se pensa ser uma vida.
Mas Santa não era feliz. Dentro das suas rotinas, Santa morria a cada dia que passava e, ao mesmo tempo que morria para a vida exterior, algo no seu interior despertava cada vez mais.
Com o passar do tempo, Santa mudou a sua vida para o mundo da fantasia. Deixou de existir na sua rotina diária, deixou de viver no mundo exterior para se refugiar dentro de si própria.
Com o tempo, deixou de reconhecer a família e os amigos, que foram sendo substituídos pelos do seu mundo lá dentro.
Cá fora só tinha problemas e chatices, intrigas e conspirações que a ditavam como louca. Mas dentro do seu mundo, Santa era uma heroína e vivia uma vida cheia de aventuras. Cá fora o mundo era cinzento, mas lá dentro era a cores. Cá fora, tudo era silêncio e vazio, mas lá dentro era cheio de vida!
O tempo passou e Santa desistiu de vez da sua vida. Nada a fazia feliz, nem a sua própria família. E foi então que Santa morreu.
No dia da sua morte, Santa não chorou nem se quis agarrar à vida. Não se importou com os filhos que deixava por criar. Não se importou se o esposo a chorava. Simplesmente deixou-se ir, até o mundo lá fora se desvancer de uma só vez.
Santa viu-se então no tão falado túnel de luz branca de que tanto ouvia falar. Tudo era escuro e vazio. Tudo era frio. Menos a luz. Aquela luz bela e colorida que dançava à frente dos seus olhos e a fazia vibrar. Essa era quente trazia-lhe algum conforto.
Santa dirigiu-se à luz mas não conseguiu passar através dela. Não conseguiu ver o que estava para além do brilho que a ofuscava e atraía.
"E agora, o que faço?" - perguntava-se Santa, sem saber mais para onde ir.
Tinha deixado de viver no mundo lá fora para viver no que criara dentro da sua própria cabeça, onde era bem mais feliz, onde podia ser quem quisesse, fazer o que quisesse sem se preocupar com os outros e as suas opiniões, os seus julgamentos. Tinha morrido e passara a barreira das limitações humanas. Mas e agora, o que fazer a seguir?
Santa sentou-se para tentar perceber este quebra-cabeças. Pensou, pensou, pensou...até que desistiu. Na sua mente, a morte deveria ter-lhe dado acesso a um outro mundo e o túnel deveria ter-se aberto para ela passar. Mas isso não tinha acontecido.
Desesperada, Santa encostou a cabeça sobre os joelhos e chorou até limpar a Alma. Foi então que sentiu uma pressão no peito e ficou ali simplesmente a sentir. Quando parou e ficou atenta ao que sentia e nada mais, percebeu que o seu coração batia. O seu coração ainda batia. Mas como seria isso possível, se Santa tinha morrido?
Deliciada com o batimento do seu próprio coração, Santa lembrou-se que ele só batia assim quando ela sonhava, naquele mundo tão dentro de si.
Mas a luz não se abrira e, se ela não morrera, então qual seria a solução?
Naquele momento, Santa ouviu o seu coração a responder-lhe.
"Vive. Sente. Liberta-te!"
E quando Santa compreendeu tudo, a luz resplandesceu ainda mais e o túnel abriu-se para ela passar.
Quando saiu do outro lado, agarrou a mão que alguém lhe estendia e sentiu de imeadiato o calor que irradiava dela. Só depois abriu os olhos para ver onde estava.
Não tinha saído da sua própria cama, mas nada lhe parecia igual. Nada era o mesmo, agora que Santa vi tudo com os olhos do coração. Tudo deixara de ser cinzento e passara a ser colorido. A realidade à sua volta estava cheia de cores, sons e cheiros e ela sentia-se viva.
Santa percebeu que a verdadeira vida não estava dentro da sua cabeça, mas lá fora. A vida estava no mundo lá fora. Nas pessoas, nas coisas, nas plantas, nos animais, na cidade! Em todo o lado havia vida a fervilhar! Cabia-lhe agora a ela entrar dentro dela e participar. Sem medo dos julgamentos, apenas sendo ela própria, existindo apenas com a sua essência. E isso abriria as portas daquele mundo. Daquele mundo lá fora, que Santa agora bem sabia que era também o seu.