sábado, 20 de julho de 2013

[Devaneios_Pendulares#1] Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal...


O pensamento que me surgiu durante a viagem de hoje:

Desde tempos imemoriais que as pessoas se instalam ao longo dos cursos de água. Os rios e os mares sempre foram um forte ponto de atracção para a Humanidade. 
O facto é que me lembro de ter lido isto algures por aí, mas também sobre mim o longo espelho azul exerce o seu magnetismo.
Não há nada mais compensador do que sentir a brisa com cheiro a maresia entrando-me pelas narinas e brincando com os meus cabelos e perdem-se-me os pensamentos enquanto tento distinguir o que está para além do horizonte.
Agora mesmo, sentada no barco e navegando pelo rio, os pensamentos fogem-me para o mar de vidas para além da minha, que se entrelaçam umas nas outras como uma fina teia.
O Universo tem uma maneira curiosa e particular de nos pregar partidas e de nos transmitir todos os seus conhecimentos, a sua Sabedoria.
Ao ver o mar de gente que me rodeia não consigo deixar de me perguntar se estarão conscientes. Se saberão da magnitude de que fazem parte. Hoje em dia já há muita gente a despertar para o verdadeiro sentido da vida, mas ainda nem todos reuniram coragem para lhe fazer frente, porque enfrentar a verdade muitas vezes dói.
Os semblantes sombrios dizem-me sem necessidade de palavras, todas as angústias que lhes corroem as almas. Vivem no medo, do medo e para o medo, que é o pior inimigo que podem ter. Os olhares carregados mostram-me as lágrimas tantas vezes derramadas e, neste momento, o meu coração sangra, amando-os e sentindo compaixão pela sua condição. Porque também eu um dia fui assim. Vivi cheia de medo, fechada numa concha com receio de que me pudessem ver.
Mas foi no sofrimento que me reencontrei, que consegui acender a faísca do que fora um dia e jamais pensei poder voltar a ser. O sopro da brisa que me move ateou a pequena faísca e transformou-a numa grande fogueira, que arde num fogo perpétuo. Este, lentamente queimou a concha onde me escondia e as cordas que me aprisionavam, trazendo-me a libertação.
Porém, o fogo interior não podia arder em demasia para que os que me rodeiam não fossem queimados. Também neste ardor o Equilíbrio é fundamental.
A minha mente vagueia de novo para as alturas em me sentava na areia da praia, ouvindo o rugido das ondas que me embalavam e me enraízava na terra para que as sementes que plantara germinassem fortes e crescessem então, moldando-se ao sabor do vento, numa dança enamorada mas sem nunca quebrar. Ainda hoje consigo sentir a àgua nos meus pés, arrefecendo-me e alimentando-me ao mesmo tempo, banhando-me de sabedoria e lavando-me a alma.
É um sentimento libertador, este de saber que estou viva e que vivo - que a minha alma vive - dentro das mais pequenas coisas.
Quando olho para o mar de gente à minha volta e lhes vejo o sofrimento, percebo-lhes ali também uma parte de mim. Por isso sorrio-lhes, tentando aquecer-lhes a alma com esta chama que me vem de dentro, tentando dizer-lhes que no final ficará tudo bem.
Não tenho mais nada para lhes dizer e não tenho mais nada para lhes dar. Os recursos terão que buscá-los dentro de si mesmos. A dança da vida os fará ficarem mais sábios. Mas o sorriso, o Amor com que os contemplo - olhos nos olhos - isso é o de que mais precioso tenho. E, no final das contas, é a maior riqueza que posso partilhar.

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