Aos 35 anos Corina era uma
mulher solitária. Morava sozinha num pequeno apartamento alugado no
centro da sua cidade natal. Tinha muitos amigos, mas não tinha uma
namorado.
Dizia
quem a conhecia que nunca a tinha visto com um homem e comentavam as
más linguas que iria morrer virgem e sem ter conhecido homem, mas a
verdade é que as coisas não eram bem assim.
De
facto, Corina passara muitos anos sem uma companhia masculina. Tinha os
seus romances fugazes, mas nada de compromissos sérios. Isso não era
para ela.
Mas aos 30 anos tudou mudara.
Uma noite, ao regressar a casa depois de mais uma das suas saídas com amigos, eis que sentiu uma presença junto a si.
Olhou
para trás, sentindo um pouco de receio. Afinal os noticiários estavam
todos cheios de histórias de assaltos, violações e assassinatos.
Não viu ninguém, mas ainda assim acelerou o passo até entrar no prédio.
No dia seguinte comentou o sucedido com as amigas e todas sem excepção lhe disseram para ter muito cuidado.
Nesse
fim de tarde, quando regressava do trabalho, Corina estava
completamente absorta nos seus pensamentos. Ao chegar ao quarteirão onde
morava, preparava-se para atravessar a estrada nas passadeiras quando,
subitamente, um carro perdeu o controlo e subiu o passeio indo na sua
direcção.
Isto
aconteceu tão depressa, que não teve tempo para nenhuma reacção, mas
eis que subitamente se sentiu puxada por umas mãos fortes que a tiraram
da frente do carro.
Corina
caiu para trás, embatendo em cima de alguém. Era o homem com mãos
fortes, que também se desequilibrara ao tentar retirá-la da zona de
impacto.
Ficaram
os dois um sobre o outro, olhos nos olhos, sentindo a conexão que se
estabelecera entre ambos como se um laço invisível os tornasse um só
para sempre. O bater dos seus corações tornou-se um só.
O
condutor do automóvel saiu desesperado, procurando ver se ninguém se
magoara. Tinha perdido os travões e não conseguira dominar a viatura.
Corina
levantou-se e estendeu a mão ao estranho que a salvara. Ambos estavam
no seu próprio mundo e parecia que o tempo tinha para do à sua volta. Os
sons da realidade chegavam muito ténues aos seus ouvidos. Só tinham
olhos um para o outro. Mão um para o outro. Todos os seus sentidos
despertos e alerta um no outro. Nada mais tinha importância.
Ainda
alheados da realidade foram-se embora. Corina conduziu o estranho que a
salvara até à sua casa. Mal entrarm no apartamento, não foram precisas
palavras. Começaram a despir-se e fizeram amor como quem se conhecia há
muito, muito tempo.
Corina sabia que era uma loucura, mas se o era então não queria voltar a ficar sã.
Adormeceram
agarrados e sem uma palavra. Na manhã seguinte, o homem tinha
desaparcido. Só o seu corpo extenuado testemunhara a noite anterior.
Passou
o dia todo absorvida pela dureza da realidade e apenas comentou com as
amigas o facto de quase ter sido atropelada, omitindo o resto dos
acontecimentos.
Nessa
tarde, ao chegar a casa, o estranho estava à porta, à sua espera. Uma
vez mais não foram precisas palavras, bastou um olhar e a conexão
estabeleceu-se de imediato.
Primeiro mataram a sede da paixão que os consumia até à alma. Só depois tiveram coragem para conversar.
Ele
primeiro. Com uma voz grave e rouca contou-lhe que não podia vir ter
com ela durante o dia. Nunca. Só a partir do momento em que o sol se
punha no horizonte é que poderia aparecer.
Ela perguntou-lhe, rindo, se ele era vampiro.
Não, não era, mas enquanto o sol brilhasse estava aprisionado num corpo que não era o seu.
Corina
aceitou o que ele lhe contou sem reservas e os seus encontros
continuaram furtivamente quando o sol se punha, todos os dias sem
excepção.
Ninguém
desconfiou de nada e todos continuavam a comentar a vida infeliz que
tinha aquela jovem mulher, que vivia na companhia do seu fiel gato, do
qual nunca se separava em nenhuma situação. Diziam as más linguas que a
ouviam a falar com ele durante o dia e a noite, e que a jovem mulher que
não tinha namorado e ia morrer virgem, estava já a enlouquecer.
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