domingo, 29 de janeiro de 2012

Aos 35 anos Corina era uma mulher solitária. Morava sozinha num pequeno apartamento alugado no centro da sua cidade natal. Tinha muitos amigos, mas não tinha uma namorado.
Dizia quem a conhecia que nunca a tinha visto com um homem e comentavam as más linguas que iria morrer virgem e sem ter conhecido homem, mas a verdade é que as coisas não eram bem assim.
De facto, Corina passara muitos anos sem uma companhia masculina. Tinha os seus romances fugazes, mas nada de compromissos sérios. Isso não era para ela.
Mas aos 30 anos tudou mudara.
Uma noite, ao regressar a casa depois de mais uma das suas saídas com amigos, eis que sentiu uma presença junto a si.
Olhou para trás, sentindo um pouco de receio. Afinal os noticiários estavam todos cheios de histórias de assaltos, violações e assassinatos.
Não viu ninguém, mas ainda assim acelerou o passo até entrar no prédio.
No dia seguinte comentou o sucedido com as amigas e todas sem excepção lhe disseram para ter muito cuidado.
Nesse fim de tarde, quando regressava do trabalho, Corina estava completamente absorta nos seus pensamentos. Ao chegar ao quarteirão onde morava, preparava-se para atravessar a estrada nas passadeiras quando, subitamente, um carro perdeu o controlo e subiu o passeio indo na sua direcção.
Isto aconteceu tão depressa, que não teve tempo para nenhuma reacção, mas eis que subitamente se sentiu puxada por umas mãos fortes que a tiraram da frente do carro.
Corina caiu para trás, embatendo em cima de alguém. Era o homem com mãos fortes, que também se desequilibrara ao tentar retirá-la da zona de impacto.
Ficaram os dois um sobre o outro, olhos nos olhos, sentindo a conexão que se estabelecera entre ambos como se um laço invisível os tornasse um só para sempre. O bater dos seus corações tornou-se um só.
O condutor do automóvel saiu desesperado, procurando ver se ninguém se magoara. Tinha perdido os travões e não conseguira dominar a viatura.
Corina levantou-se e estendeu a mão ao estranho que a salvara. Ambos estavam no seu próprio mundo e parecia que o tempo tinha para do à sua volta. Os sons da realidade chegavam muito ténues aos seus ouvidos. Só tinham olhos um para o outro. Mão um para o outro. Todos os seus sentidos despertos e alerta um no outro. Nada mais tinha importância.
Ainda alheados da realidade foram-se embora. Corina conduziu o estranho que a salvara até à sua casa. Mal entrarm no apartamento, não foram precisas palavras. Começaram a despir-se e fizeram amor como quem se conhecia há muito, muito tempo.
Corina sabia que era uma loucura, mas se o era então não queria voltar a ficar sã.
Adormeceram agarrados e sem uma palavra. Na manhã seguinte, o homem tinha desaparcido. Só o seu corpo extenuado testemunhara a noite anterior.
Passou o dia todo absorvida pela dureza da realidade e apenas comentou com as amigas o facto de quase ter sido atropelada, omitindo o resto dos acontecimentos.
Nessa tarde, ao chegar a casa, o estranho estava à porta, à sua espera. Uma vez mais não foram precisas palavras, bastou um olhar e a conexão estabeleceu-se de imediato.
Primeiro mataram a sede da paixão que os consumia até à alma. Só depois tiveram coragem para conversar.
Ele primeiro. Com uma voz grave e rouca contou-lhe que não podia vir ter com ela durante o dia. Nunca. Só a partir do momento em que o sol se punha no horizonte é que poderia aparecer.
Ela perguntou-lhe, rindo, se ele era vampiro.
Não, não era, mas enquanto o sol brilhasse estava aprisionado num corpo que não era o seu.
Corina aceitou o que ele lhe contou sem reservas e os seus encontros continuaram furtivamente quando o sol se punha, todos os dias sem excepção.
Ninguém desconfiou de nada e todos continuavam a comentar a vida infeliz que tinha aquela jovem mulher, que vivia na companhia do seu fiel gato, do qual nunca se separava em nenhuma situação. Diziam as más linguas que a ouviam a falar com ele durante o dia e a noite, e que a jovem mulher que não tinha namorado e ia morrer virgem, estava já a enlouquecer.

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